sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Reportagem na Tv Cabo Branco

Políbio Alves foi tema de uma matéria veiculada hoje no Bom Dia Paraíba, da TV Cabo Branco, afiliada da Rede Globo no estado. A reportagem é de Rosângela Marques.

Assistam!

http://g1.globo.com/videos/paraiba/v/talentos-da-paraiba-conheca-mais-sobre-polibio-alves/1647109/#/Todos%20os%20Vídeos/page/1



PS.: deixo o link, pois o vídeo não está no youtube.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Brasil e a (falta de) Educação

Eu peço licença hoje para escrever sobre um tema que será abordado sutilmente no livro, mas que não tem relação direta com a história narrada. Qual o fundamento dos principais problemas sociais do nosso país? Porque o Brasil é atualmente a vanguarda econômica da América Latina, mas em termos de educação está atrás de países diminutos como o Uruguai ou Chile. Há quem diga que as proporções continentais dessas terras dificultam a gestão da Educação, mas será que é apenas isso mesmo?
A História nos dá pistas. Em 28 de outubro de 1538 era fundada no território que hoje corresponde à República Dominicana a Universidad Autónoma de Santo Domingo, a primeira fora da Europa. Depois vieram mais centros acadêmicos: San Marcos, no Peru (1551), México (1553), Bogotá (1662), Cuzco (1692), Havana (1728) e Santiago (1738). Enquanto isso, durante o período colonial, as universidades eram proibidas por legislação específica no Brasil, assim como a imprensa. Apenas em 1808 – quando a família real foi obrigada a fugir para a colônia que ela considerava o banheiro de Portugal – o ensino superior foi legalizado.
Vejamos aí quanto séculos de atraso esse lugar sofreu. Quase trezentos anos. Em princípio, o Brasil foi vítima do colonialismo predatório dos portugueses que, além de sugar tudo o que havia aqui e não ter a menor intenção de investir no território, proibiu a criação de universidades públicas ou privadas. É aquela conhecida política de jogar sal na terra para que nada floresça ali. Concordam?
Os erros, entretanto, não pararam por aí. Sofrer com a exploração das metrópoles todas as colônias da América Central e do Sul sofreram e por que outros lugares se desenvolveram mais que o Brasil? Tudo uma questão de prioridades, como diria uma amiga. Educação nunca foi assunto primordial na agenda do governo brasileiro. E o que mais irrita nisso tudo é a pompa e arrogância do nosso país que, literalmente, dá as costas aos seus companheiros de continente, acha-se superior, e não percebe quão atrasado está em relação a eles.
Este ano, Buenos Aires foi eleita pela Capital Mundial do Livro. Estava concorrendo com Caracas, Lagos (Nigéria), Havana, Porto Novo (Benin), Sharjah (Emirados Árabes) e Teerã. Vejam só. Pesquisas mostram que os argentinos lêem quatro vezes mais que os brasileiros. Ligue a TV, leia o jornal, acesse os portais de notícias. O resultado disso está lá. Todos os dias há protestos públicos na Plaza de Mayo. As pessoas não aceitam tudo caladas, elas têm disposição para lutar pelo que acreditam ser melhor pra nação delas e tudo isso converge para um simples fato: educação. Informação tem poder.
O México publica livro a preços extremamente acessíveis e em grande quantidade. Com centavos é possível adquirir um exemplar digno. No Brasil o mercado editorial é vergonhoso. A literatura de qualidade disponível em português que atende a cursos universitários é irrisória, pouca variedade e caríssima. Procure saber quanto custa um livro de Medicina, por exemplo. Publicar um livro aqui, então, é uma via crucis, muitos teimosos se aventuram a fazer isso por conta própria e acabam estocando seus livros em casa porque falta leitor.
E falta leitor por quê? Por que no Brasil é mais admirável ser bonito que ser inteligente. Por que se prolifera a cultura da esperteza e não do esforço. A verdade é essa. Eu, humildemente, quero trazer no meu livro uma mensagem. Esse livro que nem sei se um dia vai chegar a ser vendido numa livraria – pelas várias razões que já citei nesse texto.
A mensagem que eu quero passar é a que Políbio me transmitiu desde a primeira vez que conversamos. Conhecimento tem poder. Eu ouvi esse homem dizer que foi praticamente um mendigo e que não se tornou um marginal porque viu nos livros uma tábua de salvação. Assim, sem dinheiro, sem ser apadrinhado por ninguém, sem apelar para a venda do próprio corpo, ele conseguiu conquistar um emprego digno e respeitabilidade.
Enquanto o Brasil colocar a Educação e a formação de boa qualidade em segundo plano, enquanto cassar diplomas de curso superior como fizeram com o da minha profissão, seremos um país de alienados. Massa de fácil manipulação.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Curtas

Estou meio sem tempo para posts longos, pois todo o meu tempo está canalizado para escrever o livro. Deixo aqui algumas observações, para quem está acompanhando o blog:

* Já estou com três capítulos escritos. Estou dando uma ajustada no terneiro, mas a grosso modo está pronto!

* Vou tentar marcar a visita ao Varadouro + sessão de fotos com Políbio para o dia 16 de outubro

* A gráfica Livro Rápido em Olinda demora cerca de 10 dias para fazer os livros. Assim sendo, precisarei mesmo terminar tudo até o final de outubro, pois antes da impressão é preciso diagramar e fazer a arte do livro.

* Quase todos os dias me aparecem gratas surpresas que ajudam a colocar esse TCC para frente. Hoje, por exemplo, descobri que minha colega de redação Lindjane Pereira fez sua monografia sobre jornalismo literário, mais que isso: trata-se de um longo estudo sobre a BIOGRAFIA como sub-gênero do Jornalismo Literário! Melhor impossível, não? Já estou com de posse dela e vou ler o quanto antes, vai me ajudar a escrever o relatório com o referencial teórico.

PS.: Eu peço a todos que visitam o blog que VOTEM na enquete sobre o título do livro. Sério, estou bastante em dúvida e opiniões externas podem ajudar. Também é possível sugerir um título (Faça isso deixando um comentário em qualquer tópico ou mandando a sugestão para ceciliaxlima@gmail.com)

PS.: Também peço que COMENTEM no blog, nem que seja um " :) ". Saber que eu tenho uma audiência, por menor que seja, estimula a escrever mais.

Beijos!

sábado, 24 de setembro de 2011

Primeiros capítulos e O Que Resta dos Mortos

Acho que agora peguei, de vez, o embalo. A parte de apuração foi cansativa. Entrevistas e transcrições tomaram muito tempo e eu já estava ficando preocupada com o prazo final. Mas vejo agora que está dando tudo certo. De posse das informações necessárias, a escrita está fluindo bem. Já tenho um esboço (mental) do que cada capítulo vai tratar. Hoje, tenho o primeiro capítulo concluído e estou redigindo o segundo. Importante: já sei como o livro vai terminar!

Estou animada e tendo várias ideias. Vez por outra faço anotações no meio da rua, dentro do ônibus... As ideias estão se desenvolvendo, ainda bem. Aquele meu esquema de escrever a parte literária primeiro e a jornalística depois furou. Eu mesma me sabotei. Estou escrevendo o texto corrido mesmo.

Eu já falei isso aqui, mas não canso de repetir o quão fascinante a história de Políbio é. Digna de um romance, de fato. Meu intento é bem mais humilde, não almejo ser uma biógrafa dele. Gostaria muito que alguém um dia filmasse essa história. Enquanto escrevo o livro, imagino-o como um filme. Cena a cena, muitas vezes. Vou tentar transmitir um pouco dessa narrativa "fílmica" no livro. Vamos ver no que vai dar.

***

Uma outra coisa está me ajudando a escrever, além das quatro horas de entrevista. No nosso último encontro, Políbio me deu O Que Resta dos Mortos de presente. Esse foi o primeiro livro que ele publicou na vida. Eu nunca tinha lido a prosa do escritor, e, confesso, demorei um pouco a me acostumar.

O primeiro impacto é em relação ao formato. Parece-me que Políbio escreve como fala, apressadamente. O autor não se prende aos formalismos gramáticos de nossa língua. Coloca vírgulas onde bem entende, faz economia de pontos e estende os períodos a frases de muitas linhas. Parágrafos? Às vezes leio mais de cinco páginas sem ver um. Esse estilo, com o tempo, o leitor se adapta.

O conteúdo causa estranhamento maior, eu diria. Não tem pudor, nem tabus ao falar de sexo, prostituição, taras. Mas é de uma elegância que eu raramente li. Roselis Batista Ralle, a linguista de quem eu já falei aqui, diz que a literatura de Políbio é de uma sensualidade sutil que até o Papa pode ler.

Quando, em nossas conversas, Políbio falava que gostava de espantar o leitor, ele estava sendo verdadeiro. Quando falava também que não gosta de entregar os fatos de mão beijada, também estava sendo verdadeiro. Os seus contos nunca são determinantes, sempre deixam no ar a dúvida se aquilo realmente é o que você está supondo e mais: se aquilo, de fato, aconteceu com ele, já que escreve em primeira pessoa. Algumas coisas, acredito, sejam auto-biográficas, outras eu tenho dúvidas. Dúvidas, quanto mais eu leio O Que Resta dos Mortos mais as tenho!
Fragmento do primeiro conto do livro ("Exposição do Corpo"):
[...]
"Ou talvez, me conduzisse àquela hora ao camuflado formigueiro da minha pele onde descubro que é preciso urgentemente repelir suas mãos pousadas sobre as minhas - espécie de bruxa, sem qualquer clemência à ereção do meu corpo - habitualmente amestradas, às escondidas, ali mesmo, na rusticidade dos meus pêlos, porventura mais sedosos de suor. E trêmulos. Tudo matéria de solidão. E mais, às voltas, toda essa parafernália de cacoetes. Assim, os lábios molhados de cuspe, soltando a língua na enxurrada de palavras obcenas. Essas, tão intensas, para que a minha subterrânea e enorme tristeza não se convulsione implacável sobre as criaturas."
A leitura não é fácil, mas me mantém presa. E surpresa, sempre.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Fotografias


Ao mesmo tempo em que estou escrevendo o livro, estou também pensando no aspecto "plástico" da coisa. (A "coisa" é o livro!). Sei que o produto será formado por texto e imagens. Quero colocar uma parte com fotos de Políbio e do Varadouro no miolo do livro-reportagem, além da capa, é claro, já estou tendo algumas ideias nesse sentido.

A respeito das fotografias: eu devo registrar aqui que sou muito fã dos meus colegas de trabalho repórteres fotográficos do jornal O Norte: Alessandro Assunção, Fabyana Mota e Ovídio Carvalho. De modo que hoje eu entrei em contato com o banco de imagens dos Diários Associados, o DA Press, para saber qual o procedimento (e preço!) de algumas fotografias. A resposta foi animadora, dependendo da quantidade de fotos o preço vai baixando. O fato de eu ser funcionária da empresa rende também uns 20% de desconto. Bom, né?

Estou escolhendo algumas fotos, para enviar a proposta para eles e ver por quanto fica. Prefiro fazer tudo assim dentro da lei para não ter problemas posteriores se o livro, por acaso, vier a ser comercializado (brinca!)

Abaixo, coloco algumas fotos que consegui com o próprio políbio, de seu acervo pessoal:


















FOTOS: Políbio Alves aos 16 anos; Dona Luzia, sua mãe; Passeata em protesto à morte de Edson Luís; Políbio Alves, formando de Administração pela UFRJ








quarta-feira, 21 de setembro de 2011

"O conhecimento tem poder"


Uma passagem da minha entrevista:

“O saber, o conhecimento tem poder. Porque não tem governo nesse mundo que tome, nem a morte derruba. Eu descobri isso muito cedo. E foi isso que me manteve de pé nas horas difíceis e me mantém até hoje, essa é que é a verdade.”

(Políbio Alves)

(FOTO: internet)

Primeira etapa vencida

Olá, leitores (eu tenho algum? Manifestem-se!)


Tenho o prazer (imenso) em registrar aqui que consegui terminar as trancrições das entrevistas. Foram ao todo quatro horas de conversas intensas gravadas. Preciso ressaltar uma característica, maravilhosa por sinal, de meu personagem: Políbio fala muito e muito rápido. Isso significa dizer que nessas quatro horas de papo há muita coisa dita.


Nesses últimos dias tenho sentido muita dor nas mãos. Por causa da digitação em casa e no trabalho, acredito. Mas não é nada alarmante. É mais um desconforto, por enquanto, e que se resolveu com um tensor e um pouco de pomada. Espero que não se agrave porque ainda há muito a se escrever - nesse trabalho e na vida, né?

Voltando ao assunto desse post: estabeleci como metas para mim o seguinte roteiro de 10 passos:

1 - Apuração: colher os depoimentos do personagem central (Isso foi feito nos dias 10 e 17 de setembro, em que estive na casa dele, entrevistando-o)
2 - Transcrição: passar para o papel tudo o que foi conversado, sem grandes preocupações com formatação (Isso foi feito gradativamente nas últimas semanas. Durou até mais tempo do que gostaría, mas apareceram imprevistos que me impossibilitaram de correr com isso)
3 - Blocar os temas: dividir as falas do entrevistado de acordo com o assunto abordado (pendente)
4 - Textos literários: escrever TODOS os contos que integrarão o livro (explicarei mais sobre isso em posts futuros. Já existe um feito!)
5 - Textos jornalísticos: escrever os capítulos essencialmente jornalísticos (pendente)
6 - Fotografia: marcar com o Políbio uma visita ao Varadouro e sessão de fotos. É essencial visitar o cenário com o personagem (pendente - provavelmente será na primeira quinzena de outubro)
7 - Edição: o texto final passará pelo crivo do orientador e do personagem. Sim, pretendo pedir a aprovação dele, pois coisas íntimas serão expostas e preciso saber se podem ser divulgadas.
8 - Editoração: encontrar um designer que possa fazer a capa e o miolo do livro e prepará-lo para a impressão.
9 - Impressão: Pretendo mandar o livro para a impressão nos primeiros dias de novembro, sem falta.
10 - Relatório: Sim, acreditem, além de escrever um livro eu preciso redigir também um relatório da experiência em um formato meio parecido com uma monografia. Sinceramente não estou tão preocupada com isso. Acho que depois de escrever um livro, isso será o de menos. Trabalho chato, mas que não assusta. Quero chegar ao dia 22 de novembro tranquila e serena na coordenação do curso entregando tudo isso. Mãos à obra! É uma jornada de louco.



OBS.: Decidi escrever a parte literária separada da jornalística por um motivo bem pessoal. Quero aproveitar a inspiração do dia para fazer o máximo de ficção possível. Há dias em que eu estou com o texto mais solto pra isso e é bom aproveitar.


Ao passo que, há dias em que estou mais burocrática e menos "poeta" (Rá!), então escrevo a parte "séria" da coisa. Isso se chama auto-conhecimento rsrsrs Vamos ver se funciona.




Só digo uma coisa, agora que estou de posse das informações necessárias, estou animada e ansiosa para começar a escrever. Juro que se eu pudesse passaria o dia nisso, mas preciso dormir, comer e trabalhar. E trabalhar dá trabalho! Ah, meus tempos de estudante apenas... :)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Políbio colecionador

Além de amante da Literatura, descobri outra característica de Políbio em visitas à sua casa. Ele é também um grande admirador das artes plásticas, sobretudo de pintores paraibanos. Lá eu encontrei obras de Clóvis Júnior, Elpídio Dantas, Lacet, Hermano José, Flávio Tavares, do pernambucano radicado em João Pessoa Miguel dos Santos, além de artistas cubanos, peruanos etc. Coloco abaixo algumas imagens que captei por lá.


"Pinacoteca" de Políbio



Lembram do poema Recado que postei há uns dias? "Deixe as telas de Lacet, os poemas de Lorca, os discos de Caetano". Eis aqui um dos primeiros desenhos do paraibano Alberto Lacet.

Uma tela de Lacet

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

FOTOGRAFIAS

Fotografei, em 2009, alguns pontos da cidade que serão citados no livro-reportagem. Ainda não sei se usarei essas fotografias no produtos final, mas resolvi postá-las no blog, pois ilustram bem a temática Varadouro e o autor Políbio Alves. (Obs.: todas as imagens são de minha autoria e foram captadas com uma câmera digital compacta dessas comuns mesmo)


***






Rio Sanhauá visto do mirante do Hotel Globo, crepúsculo. Não precisa de descrição, é o personagem principal do livro Varadouro, o herói de muitas faces, em cujas margens foi fundada a Cidade de Nossa Senhora das Neves


Sobrados da Praça Anthenor Navarro, à noite. Em Varadouro, o lugar é chamado de Paço Imperial, pois o imperador Dom Pedro II andou por aí quando esteve de passagem na Paraíba.


Paraíba Palace Hotel na noite de reinauguração do Ponto de Cem Réis. Políbio trabalhou aí dos 12 aos 18 anos, quando o hotel era propriedade da família Minervino. Hoje se encontra abandonado.


Liceu Paraibano. O educandário mais tradicional do estado. Aí, Políbio cursou o 1º e 2º anos do Clássico, até se mudar para o Rio de Janeiro. No Liceu, ele venceu o seu primeiro concurso com o conto "As estátuas subterrâneas", fortes influências de Sartre.


Uma "boate" da Rua da Areia. Até a década de 60, a cidade baixa era o reduto da boemia. Poetas, prostitutas e bêbados. Até hoje a área ainda abriga alguns cabarés, mas não tem mais o "glamour" de antigamente.



Ladeira de São Francisco. Essa foi a primeira rua calçada da cidade. Ela sai do páteo da igreja de São Francisco e desce até quase chegar na Anthenor Navarro.



A Casa da Pólvora. Uma fortificação de onde se observava se vinham invasores pelas águas do Sanhauá. A casa já abrigou um famoso bar na década de 90. Atualmente se encontra com um pequeno acervo de fotografias e o subterrâneo está abandonado.



Varadouro. A torre da Igreja de São Frei Pedro Gonçalves vista da Casa da Pólvora.



Varadouro. A mesma visão, agora acrescentando um pedacinho do rio Sanhauá.






Igreja de São Francisco. Um dos complexos barrocos mais importantes do mundo.




Ladeira de São Frei Pedro Gonçalves. Essa ladeira sai do Largo de mesmo nome e desde até a linha do trem, passando pela frente do Hotel Globo.



Ladeira de São Frei Pedro Gonçalves. A mesma ladeira só que vista de outro ângulo. De baixo para cima. No alto, avista-se o antigo Hotel Globo, citado no livro Varadouro, gerido por Seu Guinô Siqueira.




Armazém de Secos e Molhados. Este, no pé da ladeira de São Frei Pedro Gonçalves é um dos vários armazéns citados por Políbio em sua obra. Lá o cheiro insosso da charque se misturava ao dos grãos e temperos.




Os fundos da antiga Alfândega. A construção se encontra deteriorada e passando por restauração. A alfândega, Políbio conta, era para ele sinônimo de "lugar importante", onde os homens iam sempre de terno. Aí por perto morava um preto velho rezadeiro do qual o poeta gostava quando era criança.




A linha do trem. Trecho perto da Alfândega onde há a linha do trem que vai para Cabedelo. O meio de transporte ainda está ativo, mas já não é mais tão utilizado como antigamente.

domingo, 18 de setembro de 2011

Explosões em silêncio

(Políbio Alves em foto de Alessandro Assunção)

A frase já é conhecida, foi publicada em algumas matérias jornalísticas e no livro da jornalista Molina Ribeiro.


Ele disse a mesma frase pessoalmente a mim ontem. "Em criança, o acúmulo de informações perturbava, tirava o sono. A explosão de ideias era tão grande, mas eu não compartilhava com ninguém, não seria compreendido. Era preciso colocar aquilo para fora. Passei a escrever em todos os lugares, nas paredes, com o dedo desenhando no ar... Depois achei sensato colocar no papel, mas ao mesmo tempo em que escrevia, rasgava e fazia de novo. Escrever se tornou um hábito necessário para não morrer de silêncio."

A 2ª entrevista

Foto: frame do vídeo da 2ª entrevista, realizada no dia 17/09



Conforme havia dito, fiz ontem (17/09) a segunda parte da apuração para o livro-reportagem. A segunda entrevista oficial para o TCC durou também 2 horas (como a primeira) e foi realizada na casa de Políbio. Acredito que tenho agora informações suficientes para escrever o que quero. Obviamente, não há como abordar 70 anos de vida com profundidade em apenas 4 horas de entrevista, mas essa não é a minha intenção. Fiz um recorte do que quero tratar e, para esse intento, a quantidade de informações já é satisfatória.
Dei por encerrada a parte de entrevistas com o personagem. Com certeza, surgirão dúvidas enquanto eu estiver escrevendo. Essas questões provavelmente serão sanadas por telefone, e ele já está ciente disso. Também deixei Políbio de sobreaviso de que, provavelmente na primeira quinzena de outubro (de acordo com meu calendário mental), marcaremos uma sessão de fotos. Quero ir com ele ao Varadouro.

Voltando à entrevista:
Essa nossa segunda conversa foi bem mais tensa. Nos primeiros momentos, terminamos a "leitura dinâmica" do Varadouro, que eu tinha planejado concluir no primeiro encontro e não deu. Depois disso, retornamos à vida dele. Partindo do início de 1963, quando ele emigrou para o Rio de Janeiro.
Quando eu digo que a conversa foi tensa, não foi por outro motivo senão o próprio teor do depoimento. Políbio morou na Casa do Estudante, frequentou o Calabouço, conhecido restaurante de estudantes, esteve na famosa passeata dos Cem Mil. Infelizmente, como tantos outros jovens de sua geração, foi preso três vezes e vítima de barbaridades. De sua última prisão, voltou paralítico. Passou mais de um ano sem andar.
Esse é um assunto delicado, e eu senti que ele se sentiu desconfortável em falar. Eu não forcei a conversa, até porque essa não penso em dar destaque a essa parte no livro. Deixei que ele falasse o que se sentia à vontade naquele momento.
Ao término de nossa conversa, ambos nos emocionamos. Eu agradeci por ele ter aberto as portas de sua casa para mim, e de certa forma da vida também. Ele repetiu que nunca falara tanto sobre sua vida a alguém e que, provavelmente, jamais voltaria a falar. Reiterou seu apoio ao meu projeto e disse que eu tinha permissão para usar o material gravado para o que eu bem entendesse. Por último, disse que tinha muita esperança em mim. E eu quase choro. Foi uma tarde inesquecível.

Duas novidades: Políbio me contou (e mostrou) que enfim terminou seu livro A Leste dos Homens. Esse é o primeiro da trilogia que ele está escrevendo sobre Cuba - e suas semelhanças com o Brasil. Ele me contou que "terminou" o livro pela primeira vez em setembro de 1998. Já nos anos 2000, seu editor cubano Enrique Cirules começou a projetar uma edição cubana para o livro. Mas, em 2009, Políbio acordou inquieto em uma noite e começou a reescrever o livro. E nesses últimos dois anos, ele não fez outra coisa senão escrever e reescrever A Leste dos Homens (corrigir, rasgar laudas e laudas de texto). Quando foi na madrugada da última sexta-feira (16/09) ele deu o livro por findo, colocou dentro de uma pasta e disse que não abre nunca mais na vida, "pra não bulir".
Ele me permitiu folhear as laudas. A história do livro - que é um romance - é um paralelo dos anos de chumbo no Brasil com a situação de Cuba antes da Revolução de 59. Políbio teve acesso a documentos importantes do governo cubano e colocou tudo isso no livro, mascarado de ficção. Ele me disse que estará viajando a Havana em janeiro próximo para organizar o processo de tradução e publicação do novo livro. Eu perguntei a ele se não havia previsão para lançá-lo aqui. Ele me responde "Pra quê? Pra eu correr atrás de recursos para publicar, uma meia dúzia de pessoas ler meu livro e eu ter de ficar devendo favor a alguém?" Triste resposta, né? Mas é o Brasil, meu povo! Eu sei que vou ler esse livro esteja ele escrito em espanhol ou português.

A outra novidade é que, terminando A Leste dos Homens, ele já começou um novo romance: Hospedagem Brasil (nome provisório). A história se passa em um cortiço, num bairro às margens de um rio. Familiar, não?

***


A PROPÓSITO: este editor de Políbio é um escritor cubano do qual eu já ouvi falar (em algum lugar e não lembro onde). Pesquisei no Google e vi essa descrição na wikipédia. Li e entendi, mas tô com preguiça de traduzir.

Enrique Cirules (born 1938 in Nuevitas, Camagüey Province) is a prize-winning Cuban writer and essayist.
Among his best known titles are Conversation with the last American (1973), a non-fiction novel about the establishing, rise and fall of an American city in Cuba, The Other War (short stories, 1980), The Saga of La Gloria City (novel, 1983) and Bluefields (novel, 1986).
His most famous work is Mafia in Havana (El Imperio de La Habana) which landed his author the coveted Casa de Las Américas Prize for literature in 1993 and the Literary Critic's Award in 1994.
His Ernest Hemingway in the Romano Archipelago won a mention at the Casa de Las Américas in 1999.
His most recent works are The Secret life of Meyer Lansky in Havana (2004 and 2006) and Santa Clara Santa (2006).
His works have been translated into Russian, French, German, Portuguese and English.
Enrique Cirules resides in Cuba.

sábado, 17 de setembro de 2011

Vídeos consultados

Eu tenho muita sorte em ter como tema dessa minha reportagem-perfil Políbio Alves. Além do personagem inesgotável que ele é, das várias histórias que tem para contar e mensagens para transmitir, ele facilita meu trabalho de diversas maneiras. É uma pessoa disciplinada, que cumpre com nossos combinados, por exemplo. Hoje pela manhã eu liguei para ele, para confirmar nossa entrevista e ele disse que estaria me esperando, que inclusive tinha mandado fechar o espaço aéreo de intermares pra não correr riscos de incovenientes! Eu ri muito!
Atencioso, responsável com horários e datas, atende a meus pedidos sempre que pode. Além disso tudo, é uma pessoa extremamente organizada. Ele guarda de tudo. Fotografias, pinturas, documentos. No meio desse material de arquivo, ele me deu alguns Dvds com registros de palestras, depoimentos e solenidades. Assisti e foram bastante úteis na hora de elaborar o roteiro para a entrevista. Eu estou decupando os vídeos, anotando as passagens que interessam mais.

Em breve, vou postar no youtube alguns fragmentos e disponibilizo aqui. Além dos vídeos do arquivo pessoal de Políbio, estou lendo o livro que ele me deu "O ofício de escrever e outras vertentes", da jornalista campinense Molina Ribeiro. Trata-se de uma compilação de textos que foram publicados em jornais sobre o escritor. Molina organizou várias matérias publicadas nos jornais paraibanos e de outras partes do mundo também.


Aqui abaixo está uma lista dos que vi até agora:


· “O escritor e o texto literário” - Palestra proferida por Políbio Alves à turma da disciplina de Editoração, ministrada pela professora Dra. Bernardina Juvenal Freire, ao curso de Biblioteconimia da Universidade Federal da Paraíba. Local: Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Campus I, João Pessoa. Data: 18/01/00. (22 min).

· “Boas Conversas” – Palestra proferida por Políbio Alves aos alunos da graduação em Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba. Local: UEPB, Campina Grande. Data: agosto/2000. (37 min).

· “Tome Poesia” – Sessão do projeto “Tome Poesia”, promovido pela Usina Cultural Saelpa no Parahyba Café. Recital e bate-papo com outros escritores e visitantes. Local: Usina Cultural Saelpa, João Pessoa. Data: 14/07/04. (30 min).

· “Comenda Cidade de João Pessoa” – Entrega da Comenda Cidade de João Pessoa pela Câmara Municipal de João Pessoa, de propositura do vereador João Gonçalves. Homenagem prestada ao escritor Políbio Alves por ter se destacado no cenário cultural. Local: sede da CMJP, João Pessoa. Data: 21/05/02. (24 min).

· “Medalha Augusto dos Anjos” – Entrega da Medalha Augusto dos Anjos pela Assembleia Legislativa da Paraíba. Propositura do deputado estadual Ricardo Coutinho. (Foi a primeira medalha desse tipo entregue. Ela é entregue a paraibanos ou radicados que colaboraram com a cultura no estado). Local: sede da ALPB, João Pessoa, 17 de abril de 2001. (44 min.).

· “Comenda Ariano Suassuna” – Comenda entregue pela Câmara Municipal de João Pessoa em 27 de maio de 2008. A Comenda Ariano Suassuna é específica para personalidades ligadas à Literatura do estado e foi entregue pela primeira vez a Políbio Alves. Depoimento de Ricardo Anísio e Roselis Batista Ralle. (85 min.).

· “Ecos da crítica” – material recolhido do Projeto Memória: Autor vivo, realizado por Ricardo Peixoto e Molina Ribeiro. Depoimentos: Professora Roselis Maria Batista Ralle, Carlos Alberto Azevedo e Carlos Aranha. (24 min.).

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Véspera da 2ª entrevista

São 01:40 e só agora eu consegui terminar de transcrever toda a entrevista do último sábado. A minha semana foi muito ocupada e eu não tive tempo de correr com isso. Alarmante. Preciso esquematizar uma meta diária de obrigações, por causa do prazo curto. Tem sido difícil me dedicar ao TCC trabalhando cinco vezes por dia. É complicado, mas tô me virando como dá.
Amanhã eu e Políbio temos uma segunda entrevista marcada. Nós continuaremos a leitura do Varadouro de onde paramos e voltaremos a falar da vida pessoal dele. Chega a segunda parte, quando ele viaja pro Rio de Janeiro e vai morar na Casa do Estudandte. Há fatos bastante interessantes nessa passagem dele por lá.
Depois da entrevista, eu volto aqui para postar minhas impressões.

abraços

PS.: Agradeço os comentários de todos e peço que continuem acompanhando o blog e comentando sempre que der, pelo menos um "oi" qualquer, só para eu saber que passou por aqui. Saber que tenho leitores me estimula a escrever e manter o blog ativo.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Rua Maciel Pinheiro

Fotos: A primeira foto é da Maciel Pinheiro no início do século XX (acervo de Arion Farias). A segunda foto é mais ou menos atual, peguei na internet, o crédito é de Zelma Brito.



A conversa com meu professor orientador ontem iluminou um pouco algumas dúvidas que eu tinha sobre o formato que o livro terá. Uma coisa ficou certa, será uma mistura de textos inteiramente literários com outros mais jornalísticos. Já tenho ideias a respeito, mas não vou entrar em detalhes para não entregar o ouro.

O fato é que ontem cheguei em casa instigada para escrever e de fato o fiz. Mas não comecei pelo começo, fiz uma parte que, acredito, entrará lá pelo meio. Eu escrevi sobre a relação de Políbio Alves com a Rua Maciel Pinheiro. Essa rua, para quem não é de João Pessoa ou não conhece a história da cidade, sempre foi uma rua comercial. Nos séculos passados ela se chamava Rua Direita e concentrava a maior parte das lojas (diversas) da Capital.

Além do comércio, a Rua Maciel Pinheiro também foi muito conhecida até praticamente a década de 80, como zona de prostituição. Hoje em dia, a Rua da Areia, é mais conhecida nesse aspecto, mas de forma geral a prostituição se espalhou por todo canto. Antigamente, essa prática ficava restrita a lugares ermos da cidade. Isolada.

Botequins, bordéis, cortiços. Tudo isso fervilhava na Maciel Pinheiro quando caia a noite e Políbio Alves viu isso porque ele, inclusive, chegou a morar em uma casa que dava para os fundos de um famoso prostíbulo.

Bem, escrevi sobre isso. Ele me contou várias coisas da época, das pessoas e dos costumes. Essas informações foram valiosas na hora de redigir. Eis aí uma grande vantagem de entrevistar um poeta e escritor: as falas já vêm praticamente roteirizadas.


Hoje, quarta-feira, ao sair do jornal eu tive de ir à minha agência bancária, que fica no Varadouro, resolver uns problemas. Eu já fui pensando "Se sair cedo, vou dar uma volta na Maciel Pinheiro". E fiz isso. Era umas 16h, o sol queimando, e eu fui "passear" na Maciel Pinheiro, fazer um "laboratório" pro livro.

O comércio continua lá. Há muitas oficinas de carro e lojas de lustres, muitas mesmo, nem sabia que havia tanta demanda por iluminação! Lojas de tecido, lojas de tinta e por aí vai... Os sobrados estão lá, alguns modificados, outros preservados e outros em total estado de depredação. Mas deu para viajar um pouquinho vendo aquilo.

O toque poético fica por conta da trilha sonora. Enquanto eu andava por lá, um carrinho daqueles que vende CD/DVD pirata começou a tocar um bolero antigo, que eu não sei dizer qual era. Depois trocou, e começou a tocar Belchior. Quem me conhece sabe que eu sou fã incondicional de Belchior. Confesso que foi inspirador, até por que tocou uma música que sempre achei ter muito a ver com a história de Políbio, com tudo o que ele me contou que passou quando emigrou para o Rio de Janeiro.

Coloco abaixo um pedacinho de 'Fotografia 3x4':



Eu me lembro muito bem do dia em que eu cheguei

Jovem que desce do norte pra cidade grande

Os pés cansados e feridos de andar legua tirana...

E lágrima nos olhos de ler o Pessoa

e de ver o verde da cana.

Em cada esquina que eu passavaum guarda me parava,

pedia os meus documentos e depois sorria,

examinando o três-por-quatro da fotografia

e estranhando o nome do lugar de onde eu vinha.

Pois o que pesa no norte, pela lei da gravidade,

disso Newton já sabia! Cai no sul grande cidade

São Paulo violento, Corre o rio que me engana...

Copacabana, zona norte

e os cabares da Lapa onde eu morei...



PS.: Políbio lia muito Fernando Pessoa

PS2: Sim, Políbio morou na Lapa. Ele me contou que, enquanto morava na Paraíba, nunca soube o que era de fato a Lapa. Um dia ele viu um jornal que um professor guardava e nos classificados havia um anúncio "Aluga-se apartamento na Lapa" e uma foto dos arcos. Ele decidiu que ia para lá. Mal sabia que estava indo para uma "filial" da Maciel Pinheiro...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Orientação

Hoje foi dia de orientação com o professor Thiago Soares. Não tínhamos coisas muito concretas a abordar, pois eu ainda não tenho nenhum texto pronto. Nós discutimos basicamente a metodologia das entrevistas e a formar como o livro deverá se estruturar.
As entrevistas devem continuar como já estou fazendo, puxando pro lado sensorial do poeta. As informações de números de obras, datas de lançamentos, prêmios podem ser adquiridas em outros meios. O que vai valer das conversas com o personagem é a sua percepção de sua própria história e do universo que o rodeia. É por isso mesmo que tenho prezado no contato com Políbio.
Sobre a forma do livro, Thiago me deixa bem a vontade para "ficcionalizar" a vida do escritor-personagem. "É pra dar uma de Capote mesmo", referindo-se ao jornalista americano que fundou o romance de não ficção. (Assunto este exaustivamente estudado por nós no nosso Laboratório de mídia impressa, em 2009). Os livros do brasileiro Ruy Castro também são uma inspiração, sobretudo o "Anjo Pornográfico", em que ele trata da vida de Nelson Rodrigues. Livro perfeito!
Talvez seja muita pretensão, hein? Mirar em Truman Capote ou Ruy Castro (ou ainda: Fernando Morais, outro ídolo jornalístico!). Mas tô tentado seguir a mesma linha...

Hoje eu deixo aqui o registro de um blog "irmão do meu". Trata-se do "making of" do livro-reportagem "Cinco Jantares", dos amigos Maria Livia Cunha e Felipe Ramelli. Um histórico da imigração italiana na Paraíba. Um projeto delicioso (literalmente!) que contará a história de cinco famílias italianas e suas respectivas receitas tradicionais.
Vale o clique: www.cincojantares.blogspot.com

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

"Recado"

Eu ainda estou transcrevendo o áudio da primeira entrevista (mais de 2 horas). É um processo lento e chato, porém necessário. Isso vai facilitar a busca pelas informações na hora de escrever. Enquanto estou fazendo isso, não tenho muita coisa para contar. Então vou deixar aqui um poema de autoria de Políbio Alves que está no livro Exercício Lúdico - Invenções e Armadilhas e também, obviamente, na versão em inglês Emotional Training - Creations anda traps que ele me deu de presente quando o visitei e eu já li.
A obra de Políbio me surpreende cada vez mais. Eu disse isso a ele. Todas as vezes que leio Varadouro descubro novos detalhes. Meu "deslumbramento" tem se estendido aos outros trabalhos dele, que não são épicos. Lendo Exercício Lúdico, eu descobri, por exemplo, um poeta sensível às pequenas coisas do cotidiano, um observador. A linguagem, ora rebuscada, pode se tornar plenamente simples em um "virar de página".
Deixo abaixo um poema de Políbio que me conquistou de cara e me fez lembrar, inevitavelmente, de um outro poeta brasileiro, pernambucano, de que eu gosto muito: Manuel Bandeira.


Recado

Rasgue o lençol de linho,
a calça jeans, a cortina de cetim
Quebre os pratos de cerâmica,
o rádio a pilha, o abajur
Fique com o cordão de ouro, as lentes Ray Ban,
a chave do apartamento, o cheque azul
Deixe as telas de Lacet,
os poemas de Lorca,
os discos de Caetano.


Message

Tear the linen,
the blue jeans, the satin curtain,
break the ceramic dishes, the
portable radio, the lamp shade
Keep the golden necklace, the Ray-ban lens,
the flat's key, the blue check-book, leave
the Lacet's paintings, the Lorca's
poems, the Caetano's records.

domingo, 11 de setembro de 2011

A 1ª entrevista

Foto: um frame do vídeo da entrevista



Como eu já havia anunciado aqui no blog, ontem (10/09) eu realizei a primeira entrevista oficial para o TCC com Políbio Alves. Foram ao todo quatro horas de conversa na casa dele, duas delas foram registradas em vídeo. Cheguei ao apartamento dele às 15h em ponto, conforme combinamos, e sai de lá às 19h.
Infelizmente não tirei fotos do making of. Ultimamente tenho sentido a dificuldade que é levar esse projeto adiante sozinha. Elaborei o script da entrevista sozinha e isso demorou muito tempo, pois fiquei pesquisando toda a vida e a obra dele, destacando pontos que gostaria que ele se aprofundasse. Chegando à casa do entrevistado eu, sozinha, montei o tripé, regulei a câmera, organizei o cenário, repassei a pauta...tudo isso enquanto conversava com ele. Eram tantas coisas que eu nao tive tempo de fotografar, tampouco saberia fotografar e ser fotorgrafada ao mesmo tempo. Então ficamos sem foto, por enquanto.

A entrevista

Ontem Políbio me disse algo que, creio, todos os repórteres ficam exultantes ao escutar. Lá pela terceira hora de bate-papo, quando fazíamos uma pausa para lanchar ele olhou para mim e disse que naquela tarde estava me falando coisas que ele jamais havia comentado com outra pessoa. Disse também outra coisa que me deixou satisfeita. Primeiro, que apesar de nos conhecermos há pouco tempo ele sentia firmeza nas minhas observações e, depois, por um motivo óbvio: ninguém nunca havia feito aquele tipo de pergunta a ele, sobre assuntos mais profundos, existenciais, que ultrapassam os clichês jornalísticos de "Quantas obras", "Quando vai publicar o próximo livro", etc. Talvez esse seja o motivo para ele nunca ter falado, pois ninguém perguntou.
Ao elaborar o roteiro da entrevista eu já havia delimitado um ponto onde encerraríamos a conversa. Iríamos tratar desde a origem dele, a família, a infância, até o momento em que ele se muda para o Rio de Janeiro. Também quis fazer uma leitura detalhada do Varadouro com ele. Então selecionei passagens do livro que gostaria que ele me explicasse. Tudo isso deu certo, mas houve um pequeno imprevisto (mas que não prejudicou nada). Eu levei a câmera e comprei 4 Dvds para gravar (cada um deles cabe 1 hora de vídeo, em baixa qualidade). Pouco antes de ir para a casa de Políbio, eu fui testar os dvds e percebi que dois deles estavam com defeito, de modo que me restavam apenas dois para utilizar, ou seja, duas horas livres.
Cheguei lá e acionei a câmera na primeira pergunta, conversamos, conversamos, fizemos uma pausa quando completou uma hora de entrevista para eu trocar o dvd. Depois, já no segundo dvd, conversamos mais (a tal leitura dinâmica do Varadouro), mas o dvd chegou ao fim e eu não consegui abordar todos os tópicos que havia planejado. Não me obriguei a apressar a conversa apenas para "caber" no dvd. Então optei por interromper o roteiro. Não houve prejuízo. Na nossa próxima entrevista, que já está marcada para o próximo sábado, continuaremos de onde paramos e daremos continuidade à biografia dele, partindo da ida dele ao RJ.

Aspectos positivos da primeira entrevista:
-O entrevistado não se intimidou com o fato de estar sendo filmado, a conversa fluiu muito naturalmente
-Conheci a casa dele e percebi que seu ambiente diz muito sobre sua personalidade, vou fotografa-lo la e filmar também
-Políbio possui muito material de arquivo, ele é bastante organizado, guarda documentos, recortes de jornal e muitas outras coisas que facilitam meu trabalho


Aspectos negativos:
-Políbio tem certa dificuldade para lembrar nomes e datas, o que com certeza vai me dar alguma dor de cabeça quando for redigir
-Eu falo demais, algumas vezes, me empolgo e termino "falando por ele" coisas que gostaria de ouvir dele. Preciso me policiar
-A leitura do Varadouro, para mim é essencial, mas ele me revelou que não gosta de ler seus livros. Acho que criei uma situação que ele não curtiu muito, mas ele não reclamou e se mostrou solícito a responder meu questionamentos

Últimas:
- Políbio me deu a versão em língua inglesa de seu livro "Exercício lúdico - invenções e armadilhas" ("Emotional Training - creations and traps"), com tradução da professora Bárbara de Fátima Alves de Oliveira, que está estudando sua obra no doutorado da UFBA. O livro é curtinho e eu li ontem mesmo.
-O escritor está visitando todas as escolas municipais e Centros de Referência em Educação Infantil de João Pessoa, por conta do projeto Ano Cultural. Ele tem me contado experiências maravilhosas com os alunos da rede pública, coisas que me instigam a acreditar cada vez mais no poder da Educação. De 25 a 30 de setembro, as escolas farão apresentações baseadas em Varadouro no Teatro Ednaldo do Egypto, e eu certamente vou conferir.

Meu próximo passo: transcrever as duas horas de depoimentos colhidos neste sábado.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Véspera da primeira entrevista oficial

Conheci meu personagem, Políbio Alves, em maio deste ano e depois disso tive a oportunidade de entrevistá-lo mais duas vezes. Até agora, foram três encontros nos quais pudemos conversar sobre vários assuntos, mas sempre com alguma limitação de tempo, pois se tratavam de pautas para o jornal (onde o tempo urge e a correria é grande).

Essas entrevistas preliminares se mostraram bastante úteis tanto na decisão de tomá-lo como personagem como na elaboração de um esboço do que eu gostaria de abordar no livro-reportagem. Deixo registrado aqui que está marcada para amanhã (10 de setembro) a minha primeira entrevista oficial para o TCC. O encontro será à tarde, na casa dele, e eu pretendo levar um gravador e uma câmera filmadora. Não pretendo usar as sonoras para nada em especial, é basicamente para não ter que escrever tudo o que ele diz. Mas, pode ser que isto venha a ser útil um dia.

Para dar uma qualidade melhor ao material eu comprei um tripé para acoplar na câmera. Já estava precisando de um e o TCC foi uma boa oportunidade para eu comprar um. Espero que o fato de ser filmado não intimide o entrevistado. Acho que isso não vai acontecer. Também vou levar a câmera fotográfica para registrar alguns momentos do making of. O problema vai ser tirar a foto, já que estaremos só eu e ele. Este é um dos problemas de levar um projeto desse tipo sozinha.

Metodologia para a entrevista


Eu ainda não sei ao certo quantas entrevistas farei com o personagem. Depende muito do que a primeira render. Pode ser que conversemos por horas, ou pode acontecer um imprevisto e termos de interromper a entrevista. É imprevisível. Devido ao fato de já nos conhecermos e de eu já ter conhecimento de muitos detalhes da vida dele, acredito que a conversa fluirá bem melhor do que na primeira vez que nos vimos. A necessidade de mais uma, duas ou três entrevistas vai depender do quanto esta primeira renderá.

Falar sobre vida e memórias é algo complicado. Não porque seja difícil, é justamente o contrário: com algumas pessoas a conversa flui tão naturalmente que acaba-se falando demais e os assuntos ficam sem ordem cronológica ou repetitivos. Tendo em mente que estou elaborando um produto jornalístico eu pensei em técnicas para conduzir a entrevista de modo a evitar esse tipo de situação. Vou tentar abordar tópicos da vida dele por ordem cronológica, pedindo-lhe que fale tudo o que se lembra sobre determinados assuntos.

Estou nesse momento elaborando um script para a entrevista de amanhã. A intenção é direcionar a conversa a tópicos pré-estabelecidos. Aqui estão alguns:

-Família (pai, mãe, irmãos);
-Origem (quando e onde nasceu, em quais circunstâncias);
-A mudança para o bairro do Varadouro (onde morou, as pessoas com quem conviveu, os lugares que frequentava);
-Os primeiros contatos com o Rio Sanhauá (pescaria, banhos, lendas, acidentes);
-Primeiros contatos com a Literatura (como leitor e como escritor);
-Mudança para o Rio de Janeiro (a vida na Casa do Estudante, as refeições no Restaurante Calabouço, a morte do estudante Edson Luís);
-Prisão durante a ditadura (em que circunstâncias se deu, os motivos, o que aconteceu na prisão);
-O Título de Cidadão carioca;
-As primeiras publicações;
-A volta para a Paraíba;

Esses, obviamente, são temas bem abrangentes que com certeza renderão horas de conversa (e pelo que conheço do personagem, serão horas mesmo e que passarão rápido, pois sua história é fascinante).
Além dos aspectos gerais sobre Políbio, eu quero focar na sua ligação com o bairro do Varadouro. Preciso saber o que o levou a escrever o livro e qual sua relação com os lugares e com as pessoas que aparecem na obra. Amanhã eu posto sobre como foi a primeira entrevista oficial com Políbio Alves.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Varadouro nas escolas



Depois de um hiato de uma semana sem escrever no blog estou de volta. O motivo da ausência foi minha ida ao congresso nacional Intercom 2011, em Recife (PE). Pretendo estar no próximo, que será realizado em Fortaleza, apresentando meu livro, mas isso é uma outra história.

A novidade é que o jornal O Norte publicou mais uma matéria (de minha autoria) sobre Políbio Alves, meu personagem. Na última terça-feira (6) a Prefeitura Municipal de João Pessoa realizou o lançamento da nova edição do livro Varadouro no Salão Panorâmico da Estação Ciência. Cerca de 2 mil exemplares serão entregues a instituições de ensino públicas da cidade. Na matéria também é divulgado que o livro de contos de Políbio, O que resta dos mortos, está sendo traduzido pro francês (Conforme eu já havia escrito aqui no blog).


Transcrevo abaixo o texto na íntegra:


Varadouro nas escolas

Cecília Lima

cecilialima.pb@dabr.com.br


Ao contrário das demais capitais nordestinas, João Pessoa não nasceu junto ao mar. Sua origem se deu às margens de outras águas, mais turvas e menos espumosas que as do oceano Atlântico, as águas do Rio Sanhauá. A fundação da cidade, seus personagens históricos e anônimos estão retratados no poema épico “Varadouro” do escritor Políbio Alves, que é o homenageado da 5ª edição do projeto Ano Cultural , promovido pela Prefeitura Municipal de João Pessoa.


Nesta terça-feira (6), a Secretaria de Educação e Cultura (Sedec) lança uma nova edição do livro no Salão Panorâmico da Estação Ciência Cabo Branco, no bairro do Altiplano. Na ocasião, o prefeito Luciano Agra e a secretária Ariane Sá entregarão 2 mil exemplares que serão distribuídos nas 94 escolas municipais e nos 39 Centros de Referência em Educação Infantil, onde a obra está sendo estudada desde o início de 2011. “Para mim, é uma satisfação indescritível saber que meu poema está sendo estudado por quase 70 mil alunos”, declara o homenageado Políbio Alves.


Políbio Alves nasceu em João Pessoa, há 70 anos, e “Varadouro” (originalmente publicado em 1989) recebe o nome do bairro mais antigo de João Pessoa, onde o poeta viveu sua infância. Nele estão registrados - em versos livres - quatro séculos da cidade fundada em 1595 à beira do Rio Sanhauá. Além de “Varadouro”, sua obra mais emblemática, Políbio escreveu também "O que resta dos mortos" (1983), "Exercício Lúdico - invenções e armadilhas" (1991) e "Passagem Branca" (2005). O autor prepara o lançamento de mais dois romances para 2012: “A Leste dos Homens” e “A Traição de Hemingway”.


Traduzido para o francês


A prosa de Políbio Alves deve ganhar uma versão francesa em breve. A professora de Literatura Neolatina Roselis Batista Ralle coordena um grupo de alunos na Université de Reims Champagne-Ardene que está traduzindo a primeira publicação do paraibano, o livro de contos “O que resta dos mortos” para o francês. “Traduzir poesia é uma tarefa complicada por si só e traduzir a de Políbio, complexa, é então uma missão bastante difícil. Então decidimos começar pela prosa", comenta Roselis, que estuda a obra de Políbio desde 2006.


Através das aulas ministradas pela professora, a obra de Políbio é vista por estudantes do mundo inteiro. “Vejo franceses e intercambistas da Noruega, Finlândia, Rússia e outros países de línguas bem diferentes do português que se interessam pela prosa e poesia de Políbio. Os livros dele estão na biblioteca da universidade e são lidos por muitos, na versão original. A ideia da tradução é, além de um exercício acadêmico, uma forma de divulgar a obra dele para pessoas que não leem em português”, explica.


“O que resta dos mortos” já possui uma edição em espanhol, assim como “Varadouro”. Ambos os livros foram traduzidos e lançados em Cuba, país onde a obra de Políbio é bastante reconhecida. A sua literatura é objeto de da tese de doutorado da professora Bárbara de Fátima Alves de Oliveira, na Universidade Federal da Bahia, que traduziu para a língua inglesa o livro “Exercícios lúdicos - invenções & armadilhas" (“Emotional Training - inventions and traps”). Além do Brasil, França e Cuba, Políbio Alves também é lido e estudado na Itália, Alemanha e na Argentina.