segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Ponto de partida: um bom personagem

Eu escolhi seguir pelo jornalismo para poder contar histórias. Sempre ouvi que um bom repórter é aquele que sabe contar histórias e fazer isso humanizando seu texto. Tento, diariamente, exercitar isso em mim. Mais do que contabilizar números e títulos, interessam-me as pessoas e suas particularidades. Essa lição é passada durante o curso, na universidade, mas a prática deixa ainda mais claro a necessidade de colocar vida nas matérias que são publicadas em jornais diários ou quaisquer outros veículos.
Talvez por essas considerações, o gênero que mais gosto de ler - e consequentemente de escrever - é o perfil. Desvendar o ser humano que há por trás do profissional, do escritor, do artista plástico, do político, do jogador de futebol ou do pedestre que reclama do asfalto esburacado. Quem é aquela pessoa dentro do contexto social e o que a leva a ser relevante para ser citado no jornal?
Políbio Alves me apareceu pela primeira vez quando meu editor sugeriu que eu o entrevistasse para uma matéria que sairia em uma edição domingueira. O gancho da pauta era o fato de Políbio estar sendo homenageado pelo projeto "Ano Cultural" da Prefeitura Municipal de João Pessoa em 2011. Graças ao projeto mais de 70 mil estudantes de ensino fundamental e médio estariam estudando sua obra mais emblemática, "Varadouro".
Até então eu não conhecia praticamente nada sobre o personagem, sabia apenas que Políbio Alves era um escritor, mas não sabia de que gênero, quais obras publicara, quantos anos tinha ou de que cidade era natural. Fiquei receosa como sempre fico quando preciso entevistar alguém cujo trabalho eu não conheço. Resolvi pesquisar na internet e lá pude ler algumas poucas matérias publicadas em jornais da cidade que tratavam basicamente do mesmo assunto: o nome das obras, alguns prêmios que ele recebeu e outros detalhes de sua carreira como poeta e prosador. As informações eram esparsas, mas aquilo já era um começo e então marquei a entrevista.
Políbio me surpreendeu de imediato pelo vigor físico que demonstra aos 70 anos de idade. O jeito apressado de andar, a fala rápida. Gostei. Em aproximadamente uma hora de entrevista, conversamos sobre muitas coisas, mas o que me chamou a atenção naquele homem era sua história de vida. Percebi que era impossível falar da obra de Políbio Alves sem falar dele próprio enquanto pessoa. Sua principal obra, o livro-poema "Varadouro" trazia estampado os traços das vivências de seu próprio autor.
Políbio Alves nasceu em João Pessoa em 1941, no bairro de Cruz das Armas, e ficou órfão ainda pequeno. Sua mãe trabalhava como enfermeira nas obras de caridade do Padre José Coutinho - Padre Zé - bastante conhecido na Paraíba. Com muita dificuldade ela conseguia sustentar os filhos. Quando Políbio era criança, a família se mudou para o Varadouro, bairro mais antigo da capital paraibana, onde morou de favor nos fundos de um prostíbulo na Rua Maciel Pinheiro, famosa zona boêmia da cidade.
A ligação de Políbio Alves com o Varadouro surge aí. As ladeiras, os cabarés, os botecos, o cais do Porto do Capim, os pescadores, a pobreza, tudo fazia parte daquele universo do qual ele compartilhava diariamente. Escrever sobre aquilo tudo era apenas um efeito colateral e assim Políbio o fez. Demorou cerca de 10 anos para concluir "Varadouro", hoje considerado um épico moderno, no qual o herói nada mais é que o Rio Sanhauá.
Li "Varadouro" (presente dele) e toda a história de Políbio Alves me fascinou sobremaneira (saído de João Pessoa, ele se aventurou pelo Rio de Janeiro na década de 60 onde se envolveu em momentos importantes para a história recente do país). Eu sentei na frente do computador e redigi a matéria necessária para fechar a edição do domingo, mas fiquei com aquele personagem na cabeça. Eu precisava de mais. Escrever, destrinchar, investigar a história daquele escritor que eu passava, então, a achar formidável e que infelizmente não tinha seu devido reconhecimento na sua terra natal, apesar das citações na França, Cuba, Alemanha, Argentina e outros países.
Assim surgiu a vontade de ampliar minhas pesquisas sobre o personagem e aqui estou eu nessa missão louca de concluir um livro até o dia 22 de novembro de 2011 (data final para a entrega do TCC)

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