domingo, 18 de setembro de 2011

A 2ª entrevista

Foto: frame do vídeo da 2ª entrevista, realizada no dia 17/09



Conforme havia dito, fiz ontem (17/09) a segunda parte da apuração para o livro-reportagem. A segunda entrevista oficial para o TCC durou também 2 horas (como a primeira) e foi realizada na casa de Políbio. Acredito que tenho agora informações suficientes para escrever o que quero. Obviamente, não há como abordar 70 anos de vida com profundidade em apenas 4 horas de entrevista, mas essa não é a minha intenção. Fiz um recorte do que quero tratar e, para esse intento, a quantidade de informações já é satisfatória.
Dei por encerrada a parte de entrevistas com o personagem. Com certeza, surgirão dúvidas enquanto eu estiver escrevendo. Essas questões provavelmente serão sanadas por telefone, e ele já está ciente disso. Também deixei Políbio de sobreaviso de que, provavelmente na primeira quinzena de outubro (de acordo com meu calendário mental), marcaremos uma sessão de fotos. Quero ir com ele ao Varadouro.

Voltando à entrevista:
Essa nossa segunda conversa foi bem mais tensa. Nos primeiros momentos, terminamos a "leitura dinâmica" do Varadouro, que eu tinha planejado concluir no primeiro encontro e não deu. Depois disso, retornamos à vida dele. Partindo do início de 1963, quando ele emigrou para o Rio de Janeiro.
Quando eu digo que a conversa foi tensa, não foi por outro motivo senão o próprio teor do depoimento. Políbio morou na Casa do Estudante, frequentou o Calabouço, conhecido restaurante de estudantes, esteve na famosa passeata dos Cem Mil. Infelizmente, como tantos outros jovens de sua geração, foi preso três vezes e vítima de barbaridades. De sua última prisão, voltou paralítico. Passou mais de um ano sem andar.
Esse é um assunto delicado, e eu senti que ele se sentiu desconfortável em falar. Eu não forcei a conversa, até porque essa não penso em dar destaque a essa parte no livro. Deixei que ele falasse o que se sentia à vontade naquele momento.
Ao término de nossa conversa, ambos nos emocionamos. Eu agradeci por ele ter aberto as portas de sua casa para mim, e de certa forma da vida também. Ele repetiu que nunca falara tanto sobre sua vida a alguém e que, provavelmente, jamais voltaria a falar. Reiterou seu apoio ao meu projeto e disse que eu tinha permissão para usar o material gravado para o que eu bem entendesse. Por último, disse que tinha muita esperança em mim. E eu quase choro. Foi uma tarde inesquecível.

Duas novidades: Políbio me contou (e mostrou) que enfim terminou seu livro A Leste dos Homens. Esse é o primeiro da trilogia que ele está escrevendo sobre Cuba - e suas semelhanças com o Brasil. Ele me contou que "terminou" o livro pela primeira vez em setembro de 1998. Já nos anos 2000, seu editor cubano Enrique Cirules começou a projetar uma edição cubana para o livro. Mas, em 2009, Políbio acordou inquieto em uma noite e começou a reescrever o livro. E nesses últimos dois anos, ele não fez outra coisa senão escrever e reescrever A Leste dos Homens (corrigir, rasgar laudas e laudas de texto). Quando foi na madrugada da última sexta-feira (16/09) ele deu o livro por findo, colocou dentro de uma pasta e disse que não abre nunca mais na vida, "pra não bulir".
Ele me permitiu folhear as laudas. A história do livro - que é um romance - é um paralelo dos anos de chumbo no Brasil com a situação de Cuba antes da Revolução de 59. Políbio teve acesso a documentos importantes do governo cubano e colocou tudo isso no livro, mascarado de ficção. Ele me disse que estará viajando a Havana em janeiro próximo para organizar o processo de tradução e publicação do novo livro. Eu perguntei a ele se não havia previsão para lançá-lo aqui. Ele me responde "Pra quê? Pra eu correr atrás de recursos para publicar, uma meia dúzia de pessoas ler meu livro e eu ter de ficar devendo favor a alguém?" Triste resposta, né? Mas é o Brasil, meu povo! Eu sei que vou ler esse livro esteja ele escrito em espanhol ou português.

A outra novidade é que, terminando A Leste dos Homens, ele já começou um novo romance: Hospedagem Brasil (nome provisório). A história se passa em um cortiço, num bairro às margens de um rio. Familiar, não?

***


A PROPÓSITO: este editor de Políbio é um escritor cubano do qual eu já ouvi falar (em algum lugar e não lembro onde). Pesquisei no Google e vi essa descrição na wikipédia. Li e entendi, mas tô com preguiça de traduzir.

Enrique Cirules (born 1938 in Nuevitas, Camagüey Province) is a prize-winning Cuban writer and essayist.
Among his best known titles are Conversation with the last American (1973), a non-fiction novel about the establishing, rise and fall of an American city in Cuba, The Other War (short stories, 1980), The Saga of La Gloria City (novel, 1983) and Bluefields (novel, 1986).
His most famous work is Mafia in Havana (El Imperio de La Habana) which landed his author the coveted Casa de Las Américas Prize for literature in 1993 and the Literary Critic's Award in 1994.
His Ernest Hemingway in the Romano Archipelago won a mention at the Casa de Las Américas in 1999.
His most recent works are The Secret life of Meyer Lansky in Havana (2004 and 2006) and Santa Clara Santa (2006).
His works have been translated into Russian, French, German, Portuguese and English.
Enrique Cirules resides in Cuba.

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