terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Brasil e a (falta de) Educação

Eu peço licença hoje para escrever sobre um tema que será abordado sutilmente no livro, mas que não tem relação direta com a história narrada. Qual o fundamento dos principais problemas sociais do nosso país? Porque o Brasil é atualmente a vanguarda econômica da América Latina, mas em termos de educação está atrás de países diminutos como o Uruguai ou Chile. Há quem diga que as proporções continentais dessas terras dificultam a gestão da Educação, mas será que é apenas isso mesmo?
A História nos dá pistas. Em 28 de outubro de 1538 era fundada no território que hoje corresponde à República Dominicana a Universidad Autónoma de Santo Domingo, a primeira fora da Europa. Depois vieram mais centros acadêmicos: San Marcos, no Peru (1551), México (1553), Bogotá (1662), Cuzco (1692), Havana (1728) e Santiago (1738). Enquanto isso, durante o período colonial, as universidades eram proibidas por legislação específica no Brasil, assim como a imprensa. Apenas em 1808 – quando a família real foi obrigada a fugir para a colônia que ela considerava o banheiro de Portugal – o ensino superior foi legalizado.
Vejamos aí quanto séculos de atraso esse lugar sofreu. Quase trezentos anos. Em princípio, o Brasil foi vítima do colonialismo predatório dos portugueses que, além de sugar tudo o que havia aqui e não ter a menor intenção de investir no território, proibiu a criação de universidades públicas ou privadas. É aquela conhecida política de jogar sal na terra para que nada floresça ali. Concordam?
Os erros, entretanto, não pararam por aí. Sofrer com a exploração das metrópoles todas as colônias da América Central e do Sul sofreram e por que outros lugares se desenvolveram mais que o Brasil? Tudo uma questão de prioridades, como diria uma amiga. Educação nunca foi assunto primordial na agenda do governo brasileiro. E o que mais irrita nisso tudo é a pompa e arrogância do nosso país que, literalmente, dá as costas aos seus companheiros de continente, acha-se superior, e não percebe quão atrasado está em relação a eles.
Este ano, Buenos Aires foi eleita pela Capital Mundial do Livro. Estava concorrendo com Caracas, Lagos (Nigéria), Havana, Porto Novo (Benin), Sharjah (Emirados Árabes) e Teerã. Vejam só. Pesquisas mostram que os argentinos lêem quatro vezes mais que os brasileiros. Ligue a TV, leia o jornal, acesse os portais de notícias. O resultado disso está lá. Todos os dias há protestos públicos na Plaza de Mayo. As pessoas não aceitam tudo caladas, elas têm disposição para lutar pelo que acreditam ser melhor pra nação delas e tudo isso converge para um simples fato: educação. Informação tem poder.
O México publica livro a preços extremamente acessíveis e em grande quantidade. Com centavos é possível adquirir um exemplar digno. No Brasil o mercado editorial é vergonhoso. A literatura de qualidade disponível em português que atende a cursos universitários é irrisória, pouca variedade e caríssima. Procure saber quanto custa um livro de Medicina, por exemplo. Publicar um livro aqui, então, é uma via crucis, muitos teimosos se aventuram a fazer isso por conta própria e acabam estocando seus livros em casa porque falta leitor.
E falta leitor por quê? Por que no Brasil é mais admirável ser bonito que ser inteligente. Por que se prolifera a cultura da esperteza e não do esforço. A verdade é essa. Eu, humildemente, quero trazer no meu livro uma mensagem. Esse livro que nem sei se um dia vai chegar a ser vendido numa livraria – pelas várias razões que já citei nesse texto.
A mensagem que eu quero passar é a que Políbio me transmitiu desde a primeira vez que conversamos. Conhecimento tem poder. Eu ouvi esse homem dizer que foi praticamente um mendigo e que não se tornou um marginal porque viu nos livros uma tábua de salvação. Assim, sem dinheiro, sem ser apadrinhado por ninguém, sem apelar para a venda do próprio corpo, ele conseguiu conquistar um emprego digno e respeitabilidade.
Enquanto o Brasil colocar a Educação e a formação de boa qualidade em segundo plano, enquanto cassar diplomas de curso superior como fizeram com o da minha profissão, seremos um país de alienados. Massa de fácil manipulação.

2 comentários:

  1. É verdade, Cecil! Fiquei irado quando estava estudando para a monografia e vi no livro do Werneck que a imprensa chegou séculos depois ao Brasil em comparação a outros países. E, mesmo assim, por fatores externos - não por livre vontade. Assim como as Universidades, posteriormente... Talvez isso não tenha sido a causa do nosso problema, mas foi um mal que prejudicou bastante o futuro. Digo isso porque a revolta e a revolução são opções a quem quer mudar a própria realidade. Por qual motivo nossa revolta não se transforma em ação? Essa sua reflexão aponta um caminho... ê vida cruel

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  2. Certíssima, Ceci!! É triste demais ver a situação da educação no Brasil. O que os poderosos querem é justamente isso, uma massa de manobra fácil. Um gado manso.
    E isso ocorre em todas as esferas da nossa sociedade.A educação pública é de péssima qualidade. Muitos pobres não colocam os filhos nas escolas porque acham que é melhor aprender a trabalhar cedo, acham que escola é perda de tempo.
    A maioria dos ricos e classe média matriculam seus filhos no colégio da moda, sem nem saber qual proposta pedagógica se segue lá. Só pensam em bossar dizendo que os filhos estão no colégio tal. Nem se preocupam em escolher o que mais se assemelha ao que querem pro filho. Não. Vão igual a ovelhas seguindo umas as outras.
    Preferem comprar roupas de marca e brinquedos caros, que dar um livro de presente pra um filho. Nunca levam o filho a um teatro.
    Como é possível falar de cultura no Brasil???
    Bjos!
    Ju!!
    Blogdabebel.com.br

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