quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Rua Maciel Pinheiro

Fotos: A primeira foto é da Maciel Pinheiro no início do século XX (acervo de Arion Farias). A segunda foto é mais ou menos atual, peguei na internet, o crédito é de Zelma Brito.



A conversa com meu professor orientador ontem iluminou um pouco algumas dúvidas que eu tinha sobre o formato que o livro terá. Uma coisa ficou certa, será uma mistura de textos inteiramente literários com outros mais jornalísticos. Já tenho ideias a respeito, mas não vou entrar em detalhes para não entregar o ouro.

O fato é que ontem cheguei em casa instigada para escrever e de fato o fiz. Mas não comecei pelo começo, fiz uma parte que, acredito, entrará lá pelo meio. Eu escrevi sobre a relação de Políbio Alves com a Rua Maciel Pinheiro. Essa rua, para quem não é de João Pessoa ou não conhece a história da cidade, sempre foi uma rua comercial. Nos séculos passados ela se chamava Rua Direita e concentrava a maior parte das lojas (diversas) da Capital.

Além do comércio, a Rua Maciel Pinheiro também foi muito conhecida até praticamente a década de 80, como zona de prostituição. Hoje em dia, a Rua da Areia, é mais conhecida nesse aspecto, mas de forma geral a prostituição se espalhou por todo canto. Antigamente, essa prática ficava restrita a lugares ermos da cidade. Isolada.

Botequins, bordéis, cortiços. Tudo isso fervilhava na Maciel Pinheiro quando caia a noite e Políbio Alves viu isso porque ele, inclusive, chegou a morar em uma casa que dava para os fundos de um famoso prostíbulo.

Bem, escrevi sobre isso. Ele me contou várias coisas da época, das pessoas e dos costumes. Essas informações foram valiosas na hora de redigir. Eis aí uma grande vantagem de entrevistar um poeta e escritor: as falas já vêm praticamente roteirizadas.


Hoje, quarta-feira, ao sair do jornal eu tive de ir à minha agência bancária, que fica no Varadouro, resolver uns problemas. Eu já fui pensando "Se sair cedo, vou dar uma volta na Maciel Pinheiro". E fiz isso. Era umas 16h, o sol queimando, e eu fui "passear" na Maciel Pinheiro, fazer um "laboratório" pro livro.

O comércio continua lá. Há muitas oficinas de carro e lojas de lustres, muitas mesmo, nem sabia que havia tanta demanda por iluminação! Lojas de tecido, lojas de tinta e por aí vai... Os sobrados estão lá, alguns modificados, outros preservados e outros em total estado de depredação. Mas deu para viajar um pouquinho vendo aquilo.

O toque poético fica por conta da trilha sonora. Enquanto eu andava por lá, um carrinho daqueles que vende CD/DVD pirata começou a tocar um bolero antigo, que eu não sei dizer qual era. Depois trocou, e começou a tocar Belchior. Quem me conhece sabe que eu sou fã incondicional de Belchior. Confesso que foi inspirador, até por que tocou uma música que sempre achei ter muito a ver com a história de Políbio, com tudo o que ele me contou que passou quando emigrou para o Rio de Janeiro.

Coloco abaixo um pedacinho de 'Fotografia 3x4':



Eu me lembro muito bem do dia em que eu cheguei

Jovem que desce do norte pra cidade grande

Os pés cansados e feridos de andar legua tirana...

E lágrima nos olhos de ler o Pessoa

e de ver o verde da cana.

Em cada esquina que eu passavaum guarda me parava,

pedia os meus documentos e depois sorria,

examinando o três-por-quatro da fotografia

e estranhando o nome do lugar de onde eu vinha.

Pois o que pesa no norte, pela lei da gravidade,

disso Newton já sabia! Cai no sul grande cidade

São Paulo violento, Corre o rio que me engana...

Copacabana, zona norte

e os cabares da Lapa onde eu morei...



PS.: Políbio lia muito Fernando Pessoa

PS2: Sim, Políbio morou na Lapa. Ele me contou que, enquanto morava na Paraíba, nunca soube o que era de fato a Lapa. Um dia ele viu um jornal que um professor guardava e nos classificados havia um anúncio "Aluga-se apartamento na Lapa" e uma foto dos arcos. Ele decidiu que ia para lá. Mal sabia que estava indo para uma "filial" da Maciel Pinheiro...

Um comentário:

  1. Ceci, sabe um passeio que amo fazer? Passear pelas ruas do Centro, inclusive pela Maciel Pinheiro. Beto morre de raiva e me chama de louca, porque arrasto ele pra lá, só pra ver os sobrados antigos e me emocionar imaginando as tantas vidas que já passaram e sonharam por ali...
    Bjos!!
    Ju

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