A conversa com meu professor orientador ontem iluminou um pouco algumas dúvidas que eu tinha sobre o formato que o livro terá. Uma coisa ficou certa, será uma mistura de textos inteiramente literários com outros mais jornalísticos. Já tenho ideias a respeito, mas não vou entrar em detalhes para não entregar o ouro.
O fato é que ontem cheguei em casa instigada para escrever e de fato o fiz. Mas não comecei pelo começo, fiz uma parte que, acredito, entrará lá pelo meio. Eu escrevi sobre a relação de Políbio Alves com a Rua Maciel Pinheiro. Essa rua, para quem não é de João Pessoa ou não conhece a história da cidade, sempre foi uma rua comercial. Nos séculos passados ela se chamava Rua Direita e concentrava a maior parte das lojas (diversas) da Capital.
Além do comércio, a Rua Maciel Pinheiro também foi muito conhecida até praticamente a década de 80, como zona de prostituição. Hoje em dia, a Rua da Areia, é mais conhecida nesse aspecto, mas de forma geral a prostituição se espalhou por todo canto. Antigamente, essa prática ficava restrita a lugares ermos da cidade. Isolada.
Botequins, bordéis, cortiços. Tudo isso fervilhava na Maciel Pinheiro quando caia a noite e Políbio Alves viu isso porque ele, inclusive, chegou a morar em uma casa que dava para os fundos de um famoso prostíbulo.
Bem, escrevi sobre isso. Ele me contou várias coisas da época, das pessoas e dos costumes. Essas informações foram valiosas na hora de redigir. Eis aí uma grande vantagem de entrevistar um poeta e escritor: as falas já vêm praticamente roteirizadas.
Hoje, quarta-feira, ao sair do jornal eu tive de ir à minha agência bancária, que fica no Varadouro, resolver uns problemas. Eu já fui pensando "Se sair cedo, vou dar uma volta na Maciel Pinheiro". E fiz isso. Era umas 16h, o sol queimando, e eu fui "passear" na Maciel Pinheiro, fazer um "laboratório" pro livro.
O comércio continua lá. Há muitas oficinas de carro e lojas de lustres, muitas mesmo, nem sabia que havia tanta demanda por iluminação! Lojas de tecido, lojas de tinta e por aí vai... Os sobrados estão lá, alguns modificados, outros preservados e outros em total estado de depredação. Mas deu para viajar um pouquinho vendo aquilo.
O toque poético fica por conta da trilha sonora. Enquanto eu andava por lá, um carrinho daqueles que vende CD/DVD pirata começou a tocar um bolero antigo, que eu não sei dizer qual era. Depois trocou, e começou a tocar Belchior. Quem me conhece sabe que eu sou fã incondicional de Belchior. Confesso que foi inspirador, até por que tocou uma música que sempre achei ter muito a ver com a história de Políbio, com tudo o que ele me contou que passou quando emigrou para o Rio de Janeiro.
Coloco abaixo um pedacinho de 'Fotografia 3x4':
Eu me lembro muito bem do dia em que eu cheguei
Jovem que desce do norte pra cidade grande
Os pés cansados e feridos de andar legua tirana...
E lágrima nos olhos de ler o Pessoa
e de ver o verde da cana.
Em cada esquina que eu passavaum guarda me parava,
pedia os meus documentos e depois sorria,
examinando o três-por-quatro da fotografia
e estranhando o nome do lugar de onde eu vinha.
Pois o que pesa no norte, pela lei da gravidade,
disso Newton já sabia! Cai no sul grande cidade
São Paulo violento, Corre o rio que me engana...
Copacabana, zona norte
e os cabares da Lapa onde eu morei...
PS.: Políbio lia muito Fernando Pessoa
PS2: Sim, Políbio morou na Lapa. Ele me contou que, enquanto morava na Paraíba, nunca soube o que era de fato a Lapa. Um dia ele viu um jornal que um professor guardava e nos classificados havia um anúncio "Aluga-se apartamento na Lapa" e uma foto dos arcos. Ele decidiu que ia para lá. Mal sabia que estava indo para uma "filial" da Maciel Pinheiro...
Ceci, sabe um passeio que amo fazer? Passear pelas ruas do Centro, inclusive pela Maciel Pinheiro. Beto morre de raiva e me chama de louca, porque arrasto ele pra lá, só pra ver os sobrados antigos e me emocionar imaginando as tantas vidas que já passaram e sonharam por ali...
ResponderExcluirBjos!!
Ju